Teoria Da Inteligência Acidental (Parte 1)
Por Elson Lemos
Imunidade
As coisas abordadas nestas linhas não pretendem, nem devem, serem tomadas como verdades absolutas, pois são apenas teorias, e esta tem como única pretensão instigar a reflexão, buscando quem sabe, alguma contribuição de alguém que tenha algo a acrescentar.
Portanto cabe a cada leitor, com a individualidade que lhe é de direito, refletir e tirar suas próprias conclusões sobre o assunto.
Mesmo que alguns conceitos citados não sejam respaldados pelos cientistas, há um vasto material relatando estes, dentro dos ensinamentos de alguns sábios do remoto Egito, local onde foram erguidas as pirâmides, uma das maravilhas do mundo antigo e até hoje discute-se a forma que foram construídas.
Sendo assim, pelas referências citadas, com certeza ficará mais fácil “digerir” um assunto tão polêmico e intrigante.
Segundo os princípios herméticos, o planeta Terra é um organismo vivo e inteligente, mas com certeza não no sentido intelectual, mas sim, uma outra forma, com manifestações que eles chamam de “inteligência elemental”.
Esta, talvez, seja a forma de inteligência mais importante do universo.
Sendo assim, este organismo, deve também contar com seu próprio sistema imunológico.
Se isso estiver correto não seria possível que este gigantesco sistema orgânico pudesse interpretar o ser humano, que tem depredado grande parte da natureza, como um corpo estranho, um tipo de vírus ou bactéria e assim acionar sua imunidade para expulsar o elemento invasor do seu corpo?
Bom, a princípio isso funciona desta maneira com vários organismos complexos, o nosso, por exemplo, o corpo reage diariamente aos ataques de bactérias, vírus e outros micróbios, por meio do sistema imunológico, essa barreira é composta por milhões de células de diferentes tipos e com diferentes funções, responsáveis por garantir a defesa do organismo e por manter o corpo funcionando livre de doenças.
Caso fosse considerado que o planeta realmente é um sistema biológico com proteção imunológica, será que nós seres humanos trataríamos ele da forma que temos tratado? Isso mudaria o contexto, inverteria a situação, ao invés de querermos preservar o planeta pelo bem dele, precisaríamos fazer isso pelo nosso próprio bem.
Os “senhores do mundo” tremeriam nas bases, pois toda sua fortuna e poder de nada valeria para eles, simples bactérias na iminência de serem aniquilados, tudo isso causado pelos seus ferozes apetites em busca de bens materiais, omissão dos incompetentes governos, aliado ao descaso e consumismo desenfreado das populações.
Mais uma vez os ecologistas estariam corretos e teriam um grande aliado para a mudança, o planeta, enfermo e combatendo sua doença, a raça humana.
Ou seja, todos nós, ricos, pobres, poderosos e humildes no mesmo barco, um Titanic universal. Porque penso desta forma? Simples, tenho observado os danos que o homem tem feito e vejo que mesmo esquartejada a natureza insiste em viver.
Vim morar em Guaíba, uma cidade da grande Porto Alegre em 1974, naquela época eu tinha apenas dez anos de idade, apesar de ter nascido na capital e sermos muito pobres na época, tenho belas lembranças da minha infância no bairro São Geraldo.
Quando mudamos para este lugar, tudo era novidade para mim, aprendi coisas que na cidade grande não fazíamos.
Entre as coisas que aprendi, uma delas foi pescar e a outra foi caçar, tudo isso sem ter um pingo de conscientização, na época nós (eu e alguns amigos) éramos verdadeiros predadores, abatíamos tudo que se movia e não fosse gente ou animais domésticos.
Uma pena, pois aquilo era aculturado nos moradores que vieram do interior e também haviam se instalado ali. Era como um passatempo, pescar com redes de malhas predatórias e caçar. Entre os animais que abatíamos estavam preás, ratões do banhado, gambás, aves de várias espécies, um verdadeiro caos nós infligíamos à fauna local naquela época.
Depois de nós vieram outros e predaram mais ainda, até não sobrar nada.
Mas o tempo passou, e através da experiência que a vida nos concede, fui me conscientizando dos erros cometidos, que pena que o tempo não pode voltar, pois me arrependo muito dos danos que causei a natureza.
Mas hoje vejo as coisas com outros olhos, e não sei se vou merecer algum perdão quando chegar a hora de ajustar as contas.
Assumo meu erro e caso não seja perdoado acho que é justo.
E assim com o passar do tempo fui observando e tentando interpretar os sinais que se fazem visíveis aos que buscam entender o meio ambiente, cheguei à seguinte conclusão, a natureza vai resgatar o que é seu por direito, se não entregarmos por bem, vai tomar-nos com certeza.
Digo isso porque, depois de trinta anos, voltei ao local que vi depredado na minha infância. Tive a grata surpresa ao ver a fantástica recuperação da flora, e ainda testemunhei a povoação de animais que não existiam ali.
Fiquei maravilhado, ao ver bugios, ratões do banhado, lontras, capivaras, palmípedes de várias espécies, aves de todo tipo, martim pescador, garça moura, cardeais, maçaricos entre muitos outros.
Apesar de nós, a natureza sobreviveu, árvores exuberantes, ingazeiros, taquareiras, erva de bugre, figueiras imensas, a mata cresceu e ficou intransponível.
Hoje é quase impossível de alcançar os lugares que foram de fácil acesso, na ocasião em que consegui chegar lá, foi com um caiaque, aproveitando a baixa do rio, pois numa situação de nível normal das águas, seria improvável alcançar o âmago do local.
Depois de tanto tempo formou-se sobre o arroio um emaranhado de galhos de taquareiras e de outras árvores ribeirinhas.
Quem olha ao chegar à foz pensa que é impossível de ir adiante, mas ao insistir e transpor o obstáculo criado, percebi uma paisagem maravilhosa se formando diante dos meus olhos, senti-me como se tivesse sido agraciado pela mão generosa da mata.
A impressão que tive, foi que a floresta revoltou-se contra os abusos e tornou-se uma barreira natural, acolhendo o eco sistema e superando as adversidades, retornando com muito mais força do que antes, pois não fosse assim não sobraria nada dela.
Estava quase tudo como deveria estar, digo quase tudo, porque o arroio que permeia esta região está gravemente poluído na área urbana e a poluição chega até a sua foz, comprometendo um eco sistema precioso para a qualidade da vida selvagem deste local.
Nos meses de verão, os orizicultores constroem uma pequena barragem para represar o liquido saturado de dejetos a uns oitocentos metros de distância do rio, fazem assim para irrigar o arroz com uma água de melhor qualidade.
Consegui acessar este local exatamente nesta época.
Por isso a água estava limpa, e a fauna seguindo seu ciclo de vida.
Mas é uma pena, assim que acaba a fase de irrigação do arroz, o arroio volta a escoar excrementos urbanos, agonizando sem o socorro das “autoridades” da região.
Ao ver e analisar a situação, entendo, porque o acesso ao local ficou tão difícil.
Uma das minhas teorias neste caso é que a floresta quer dispensar os seres que não estejam conectados visceralmente com ela.
Mas mesmo assim, ao cruzar as barreiras impostas pelo meio ambiente nunca imaginei que poderia me sentir tão acolhido pela natureza, é como se cada árvore estivesse me abraçando com seus enormes braços, me perdoando pelos meus erros e protegendo-me do sol quente ou dos temporais de fim de tarde no verão.
Analisando os símbolos vitais da floresta percebi que ela nos diz, coma dos meus frutos beba da minha água, mas não desperdice nada, e assim ela acolhe nesta simbiose maravilhosa os seres que vivem em seu eco sistema.
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