Do Mate Amargo
Do Mate Amargo
Nos rincões sulinos, a tradição gaúcha é vivenciada e celebrada através de costumes que carregam consigo histórias e saberes passados de geração em geração. Um desses momentos emblemáticos é a madrugada a beira do fogo, quando a cambona chia, momento em que se inicia o preparo de um mate amargo, enquanto se sente a brisa mansa matinal e o sereno goteando no zinco.
Pelas madrugadas o ritual do mate amargo desperta sentimentos profundos de solidão e nostalgia, cutucando as ânsias e companhias antigas desde a infância. No costado do fogo, a vida rural e as tradições gaúchas, ressoam com uma melancolia. As imagens de labaredas e sombras remetem a uma herança cultural marcada por amor, trabalho e pela resistência.
Ideias cevadas nos amargos antecedem o clarear do dia, a encilha, a lida e revelam a influência da cultura regional na construção da identidade dos nossos anteriores, referenciando à "herança caudilha".
Este ritual, tão enraizado na cultura gaúcha, remete à ideia de simplicidade, conexão com a natureza e partilha entre as pessoas. A roda de chimarrão ao redor do fogo, onde a conversa flui de forma tranquila e acolhedora, é um momento de ternura e companhia, onde se estabelecem laços de amizade e fraternidade.
No contexto histórico, a tradição do chimarrão está intrinsecamente ligada à colonização do sul do Brasil, especialmente pelos povos indígenas e pelos primeiros imigrantes europeus. A erva-mate, ingrediente fundamental do chimarrão, era consumida pelos nativos muito antes da chegada dos europeus, que logo se adaptaram a essa bebida amarga e reconfortante.
O impacto de momentos como a madrugada no costado do fogo vai muito além da simples apreciação do mate amargo. Esses encontros promovem a integração entre as pessoas e proporcionam um momento de reflexão e contemplação diante da imensidão do pampa. É um momento sagrado, onde se valoriza a simplicidade e a beleza dos pequenos instantes.
O futuro da tradição e os costumes depende do compromisso de cada um em preservar e valorizar essa herança cultural, mantendo viva a chama do fogo e o aroma do mate amargo, verdolengo e topetudo, que nos conecta com a essência do Rio Grandense.
...As saudades vão campeando lembranças
Minha herança que mantenho preservada
E bem guardada nos refolhos da alma
Despertadas na calma das amargueadas...
...Na madrugada longa
Lido com as ânsias
Antigas companhias
Desde a infância
Cevadas nos amargos
Presas ao coração
Que pateiam nas horas
De silêncio e solidão
Palmeio o porongo
Ao redor do fogão
Camboneio paciente
As voltas da razão
Chuleio labaredas
No toco de corunilha
Lampejando sombras
- Herança caudilha -
.. Fogo, cambona e mate
Antigo ritual sagrado
Das madrugadas crioulas
Num cismar enfumaçado
Picumando as ideias
Dos vestígios marcados
E recuerdos doloridos
Na alma aquerenciados...