Difusão Cultural
Processo de Aculturação
Por Elson Lemos
Quando falamos em cultura gaúcha muitas vezes esquecemos que ela tem base em diversas outras antes da formatação que chamamos tradicional.
Precisamos entender que o processo de aculturação precisa de duas ou mais culturas para formar a base de uma terceira.
Vou citar alguns exemplos bem simples, quando os europeus chegaram a estas terras encontraram aqui a cultura guaranítica, e desta herdou vários costumes, o chimarrão com certeza é o mais emblemático de todos.
Sendo assim muitos outros costumes passaram por transformações, seja por questões geográficas, de sobrevivência ou puramente de absorção por proximidade.
Em relação á música e a dança não foi diferente, estas também sofreram o processo de aculturação e ainda estão passando por ele nos dias atuais.
Para desespero dos tradicionalistas mais ortodoxos e das regras do MTG isso é uma realidade bem atuante.
É comum ver nos dias de hoje prendas usando bombachas estilizadas, talvez por ser mais confortável que a indumentária chamada tradicional, outras formas de aculturação em andamento podem ser encontrados na ala campeira dos movimentos, o velho e duro arreio de duas cabeças deu lugar ao basto bipartido de quatro cabeças e este vem cedendo espaço a outros novos modelos de arreios que ainda não consigo classificar.
O laço chumbado é o que podemos chamar de um “ajustamento” para o tiro de laço onde deixou-se de usar os velhos laços grossos e rígidos ou sovéis rústicos para adaptar-se ao meio que hoje soa mais como exporte que como tradição ( o que não diminui em nada sua importância).
Vejo também dentro da música pampeana uma transformação relevante, me atrevo a dizer enriquecedora.
Cito alguns exemplos muito próximos de nós que são agentes desta conversão cultural, um destes é com certeza Renato Borghetti que no inicio dos anos oitenta entra como um verdadeiro divisor de águas dentro do processo de aculturamento, ganhou as rádios FM da época que só tocavam outros estilos musicais e dali seguiu mundo a fora com sua obra instrumental e ainda hoje (mais do que nunca) é um dos mais conceituados músicos da nossa terra.
Hoje vejo, Borghetti, Yamandú costa, Roger Correa entre tantos outros grandes artistas que usam o que chamo de “espinha dorsal do Jazz” para enriquecer o conteúdo das suas obras e estas chegam ao nossos ouvidos com sotaque regional e ao mesmo tempo universal .
Falamos tanto em preconceito nestes novos tempos, e com certeza precisamos entender e aceitar que tudo isso faz parte deste processo, onde a cultura não mais é estanque e sim dinâmica.
Ao analisar tudo isso eu acredito que o processo de aculturação não é nocivo a qualquer cultura, mas sim enriquecedor, “temperando” e atualizando artistas, dando a eles condições de contribuir com sua arte numa forma mais democrática e criativa sem qualquer prejuízo a nossa cultura.
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